quinta-feira, 21 de maio de 2009

Fotografia e História - Boris Kossoy

A fotografia foi uma das invenções do contexto pós-Revolução Industrial e teve um papel fundamental como possibilidade inovadora de informação, instrumento de apoio à pesquisa e também como forma de expressão artística. O mundo, a partir do século XX, se viu substituído por sua imagem fotográfica, tornando-se portátil e ilustrado. A história ganhava um novo documento.

A fotografia, porém, ainda não alcançou o status pleno de documento que no sentido tradicional, especifica apenas os escritos, manuscritos e impressos. Não haveria exagero em dizer que sempre existiu certo preconceito quanto à utilização da fotografia como fonte história ou instrumento de pesquisa. Duas razões poderiam ser especificadas: a primeira está ligada ao aprisionamento multissecular que temos à tradição escrita como forma de transmissão do saber; a segunda refere-se à resistência em aceitar, analisar e interpretar a informação quando esta não é transmitida segundo um sistema codificado de signos.

A invenção da fotografia possibilitou aos seres humanos o registro de momentos históricos que podem ser reavivados pelo poder documental da informação retida no papel. O autor do livro classifica a foto original como fonte primária de pesquisa histórica, já as reproduções são fontes secundárias, visto que são identificadas outras características que as diferem do original.

Boris Kossoy traz ao debate também pontos importantes que podem ser reveladores de determinada foto. Por exemplo, o fotógrafo como um filtro, já que seleciona o assunto, trata esteticamente a imagem, organiza os detalhes visuais e explora a tecnologia da época. Portanto, a fotografia representa uma segunda realidade, autônoma, um fragmento do passado, que retrata informações de um tempo e de seu idealizador. É um duplo testemunho com expressões das artes plásticas em conjunto ao conhecimento histórico.

Existem duas distinções principais que devem ser consideradas no estudo da fotografia. A primeira delas é a história da fotografia como objeto em si, e a segunda é a história de um país, ou de um povo, contada através da fotografia. A história vive em um processo de retroalimentação através da fotografia. As imagens servem do ponto de vista documental para aprofundar os estudos de determinadas áreas. Ao mesmo passo que estudar a história da própria fotografia como objeto, significa considerar a evolução tecnológica, estilos e tendência de cada época.

As imagens são as responsáveis por nós sabermos boa parte do passado. Elas ajudam a visualizar micro cenários que constituem a nossa história. Entretanto, para a fotografia ser considerada e apresentada como um documento são necessárias informações escritas sobre ela. A fotografia não é apenas uma imagem de uma determinada época e situação, é um documento de estudo da história da nossa sociedade, e por isso, é importante saber a data que foi feito o registro, o autor, o local, a tecnologia utilizada, entre outros.

Para serem descobertas todas as informações imagem pode refletir, é importante articular informações sobre sua própria gênese e história enquanto documento e dos procedimentos técnicos específicos utilizados. Essas informações, que podem ser obtidas mesmo muitos anos após a fotografia ter sido feita, são descobertas através do chamado estudo técnico-iconográfico.  O exame tem como objetivo principal identificar a determinação do assunto, local e época, fotógrafo e tecnologia que deram origem à fotografia. Desta maneira, para determinar todo o histórico fotográfico, vários pontos de análises são avaliados. Boris Kossoy lista sete pontos de observação. São eles: Referência Visual do Documento, Procedência, Conservação, Identificação, Informações referentes ao assunto, Informações referentes ao fotógrafo e Informações referentes à tecnologia.

Nos últimos anos ficaram bem visíveis o grande crescimento dos estudos a cerca da fotografia. Em décadas passadas encontravam-se poucas obras que fizessem referência a sua história, até que surgiu um interesse surpreendente por meados dos anos 60, onde a fotografia passa a ser vista enquanto forma de expressão artística, ocupando espaços importantes, abrindo o campo para publicações, ensino e pesquisas.

Posteriormente surgem elementos que possibilitam avaliar o desenvolvimento da história da fotografia, uma vez que estudos vão sendo reformulados, na busca de novos campos temáticos que possibilitam a investigação. Crescendo na América Latina a conscientização da importância da fotografia para o poder público e as instituições privadas como forma de preservação, conservação, catalogação dos patrimônios iconográficos.

A partir do momento em que houve a reprodução da fotografia nos jornais e revistas e inúmeras publicações ilustradas passaram a transmitir as imagens encomendadas dos fatos da história cotidiana do século XX, proporcionou o nascimento do fotojornalismo, dando a “abertura” a publicidade comercial moderna, que percorre o “caminho” do tão conhecido consumismo.  Por estar presente como meio de comunicação e expressão em todas as atividades humanas, a fotografia insere-se na história cultural.

Os estudiosos da fotografia vão estar sempre diante do fato dela ser um documento. As fotografias podem mostrar o real, mostrar como de fato eram os acontecimentos, por isso, sua importância diante de outros documentos.

A fotografia serve como instrumento visual (perpetua um determinado momento; prova um fato – mas é preciso ter cuidado, pois ela pode ser manipulada). Ela serve para recordação, documentação, informação, divulgação dos fatos expressão artística e como instrumento de pesquisa. Mas para que ela possa realmente auxiliar na pesquisa, é necessário que o pesquisador a contextualize para que ele entenda melhor o que a foto quer dizer.

As fotografias são o registro de momentos que jamais se repetirão mas que poderão ser vistos de várias em várias gerações.   

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