terça-feira, 26 de maio de 2009

Boris Kossoy - Fotografia e História

Grupo: Adriana Barros, Daniele Goes, João de Souza, Mª Cláudia Dubeaux, Jonara Medeiros e Pedro Neto

ICONOLOGIA: CAMINHOS DA INTERPRETAÇÃO

Se a imagem fotográfica é fonte de recordação e emoção, ela permite ao indivíduo ser intérprete de sua própria história. Uma reflexão sobre o significado da fotografia na vida cotidiana das pessoas permite enxergá-la de três maneiras: recordação do passado; conteúdo emocional e passagem do tempo. Isso deixa marcas na memória, na medida em que relembra as trajetórias pessoais, desde acontecimentos corriqueiros até momentos importantes. Sendo assim, a fotografia marca uma experiência visual do homem diante de si mesmo.

A fotografia contém informações congeladas em um determinado momento, espaço e ponto de vista. Contém uma carga de veracidade aceita antes mesmo de ser tirada. Como não possui montagem a princípio, tem um caráter de exatidão e realidade muito forte. Atribui-se à fotografia a qualidade de registro histórico enquanto expressão da verdade. O registro pode ser de pessoas, com suas maneiras e expressões; construções; ruas; natureza etc.

O fotógrafo é ao mesmo tempo criador e registrador do tema escolhido. O cliente ou contratante é aquele a que confia a missão ao fotógrafo. No caso de uma empresa, há a determinação editorial para direcionar o que deve ser veiculado. Os receptores estão indiferentes ao momento específico dessa produção; apenas deles se aguarda a reação/emoção demonstrada ao visualizar o conteúdo exposto na foto.

A fotografia mostra apenas um aspecto determinado da realidade. Sua criação pode passar pela manipulação técnica, estética ou ideológica. Mesmo antes do registro fotográfico existe manipulação, uma vez que o fotógrafo escolherá como, onde, por que, o que registrará com sua câmera. Além disso, passará pelo laboratório, onde pode sofrer alterações deliberadas no momento da revelação e/ou após a finalização, quando há chances de sofrer edição.

A necessidade de se perpetuar a imagem faz o homem querer admirar a si mesmo, criando uma auto-ilusão de haver, quem sabe, posterior admiração, seja por si mesmo, seja por outros. Isso dá ao ser humano a possibilidade de criar máscaras. Uma nova realidade é forjada através de elementos pré-fotográficos: estúdio, decoração, montagem de cena. O fotógrafo torna-se, então, cúmplice do cliente, havendo reciprocidade entre ambos.

A relação fotógrafo-cliente é diferente da relação fotógrafo-conteúdo da fonte. Isto é, o fotógrafo de pose é diferente do fotojornalista. Este último dedica o trabalho ao território urbano, campos, natureza, tipos humanos, guerras etc. A forma como isso se registra pode depender muito de para quem o fotógrafo trabalha. Portanto, vai depender do interesse de determinados grupos. De uma forma ou de outra, o fotojornalismo orienta a leitura do receptor, por isso o fotógrafo serve de filtro cultural, já que altera a informação original de alguma maneira. Ainda assim, não elimina a possibilidade de um paradoxo: um signo fixo (imagem parada) que permite múltiplas interpretações.

Quando partimos para a questão da interpretação, podemos ser ousados e direcionar o pensamento para muito além do que a imagem mostra “literalmente”. Devemos observar as “entrelinhas” da imagem, as particularidades além do que se vê. As palavras exigem certo tempo para serem entendidas quando se trata de concluir raciocínios. À fotografia basta um passar de olhos. Ela já está completa em si mesma, em largura e altura. A profundidade quem cabe dar é o receptor.

A interpretação é o que permite diferenciar o fotojornalismo da fotopublicidade, muitas vezes mascarada de jornalismo apenas para promover instituições ou ideologias oriundas de interesses subalternos. Mas, o que pesa é sempre a ideologia. Ela determina os mecanismos de produção e os princípios da representação.


INVESTIGAÇÃO E INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA À LUZ DO CONTEXTO SOCIOCULTURAL

A fotografia está inserida definitivamente na história cultural. Ela se faz presente como meio de comunicação em todas as atividades humanas. Reúne conteúdos múltiplos de informações da realidade selecionada.

Inserem-se no mundo de maneira que “sejam apenas relatos superficiais”, denominando-se históricas. E que não passam de meros levantamentos de nomes de fotógrafos, ilustradores com imagens do passado. Registro da história.

Nas últimas décadas, a fotografia viveu um processo de revalorização, passando a ocupar espaços cada vez mais importantes como paredes de museus, galerias especializadas, introdução de novas publicações, disseminação de seu ensino e pesquisa, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Fotografias de épocas mais afastadas, e também contemporâneas passaram a ser procuradas e respeitadas: criava-se um mercado. Na América Latina, somente a partir dos anos oitenta, as pesquisas de cunho científico começaram a ser encetadas, conscientizando o poder público e as instituições privadas. Aos poucos a foto se tornou um vício, uma maneira de se conhecer o mundo através do visual.

Os aparelhos, que antes eram caros e de difícil manuseio, tornam-se a cada dia mais práticos.Com isso, todo mundo pode ser fotógrafo, seja amador ou profissional. As fotos também passaram a ser usadas no campo jornalístico e publicitário, muitas vezes visando manipulação e persuasão. As pinturas impressionistas e os movimentos vanguardistas que se seguiram a Primeira Guerra Mundial usaram a influência da fotografia de forma positiva.

O conjunto desse trabalho, entretanto, não se constitui no objeto da história da fotografia. Não é apenas o acontecimento em si que é a meta a ser recuperada. O que interessa é o pensamento que levou o homem a determinada ação. Buscar as origens psicológicas que deram origem aos acontecimentos.

A história da fotografia é a história dos seus usos, e técnicas e fotografias, porém é necessário compreender a profundidade dessas aplicações. A história, assim como a verdade, tem múltiplas facetas e infinitas imagens.

Fotografia é memória, mas tem um grande peso histórico. As fotografias e seus autores vão passar; mas fotos permanecem e permitem entender nossos precursores e os métodos utilizados para capturar um momento e eternizá-lo.

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