sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Walter Benjamin

BIOGRAFIA

Nascido em Berlim, filho de um rico antiquário de origem judaica, Benjamin tinha uma verdadeira paixão colecionadora. Colecionava, entre outras coisas, livros infantis e citações. Alguns de seus principais textos são construídos à base de citações sobre citações, ou seja, um mosaico filosófico.

Benjamin não viveu tempos amenos. Com a ascensão de Hitler, ainda na década de 30, a situação para os judeus na Alemanha foi se tornando insustentável. Benjamin então se refugia em Paris, terra do romancista Marcel Proust (de quem fez a primeira tradução alemã) e de seu deus, o poeta Charles Baudelaire (1821-1867). Foi inspirado por Baudelaire e pelas galerias da Cidade-Luz que o filósofo resolveu conceber sua mais ambiciosa obra, o Trabalho das Passagens.

O texto não foi concluído e somente seria editado muitas décadas depois da morte de seu autor. É também durante essa temporada parisiense que Benjamin tenta uma reaproximação com o judaísmo através do plano de emigrar para a Palestina, para onde já tinha se encaminhado seu amigo, o historiador da mística judaica Gershon Sholem.

No inverno de 1939-1940, com o suposto perigo dos bombardeios sobre Paris fez Benjamin buscar refúgio em Meaux, cidadezinha do interior da França. Embora nenhuma bomba caísse sobre a capital francesa, Meaux era local de concentração do exército e um alvo óbvio para um ataque alemão. Antes, no final da década de 20, perseguira sua grande paixão, a atriz Asja Lacis, em pleno inverno moscovita. Retornou deprimido e solitário.

Walter Benjamin se suicidou em Port Bou, na fronteira da França com a Espanha, em 26 de setembro de 1940. Com medo da captura pelas tropas franquistas e depois de saber que a passagem para a Espanha estava fechada, Benjamin tomou uma grande quantidade de morfina durante a noite. Apavorados com o suicídio do filósofo, no dia seguinte os oficiais da fronteira permitiram que os demais integrantes da caravana de refugiados seguissem em direção a Portugal. Afinal, a proibição de passar para a Espanha tinha valido apenas para o dia anterior. Justamente o dia em que Walter Benjamin escolhera para sair da França.

PENSANDO A FOTOGRAFIA

No seu artigo “A Obra de Arte na Época da sua Reprodutividade Técnica”, Walter Benjamin afirma que “com a fotografia, pela primeira vez, a mão se liberou das tarefas artísticas essenciais, no que toca à reprodução das imagens, as quais, doravante, foram reservadas ao olho fixado sobre a objectiva”. (Freund, 1982)

Os pressupostos de Walter Benjamin objectivaram a remodelação dos conceitos de cultura e estética, a partir da experiência suscitada pela reprodutibilidade técnica, que na sua essência é a própria continuidade da ideologia mercantilista. Mas, por que esta questão aparentemente técnica adquiriu tal relevância? Ainda Walter Benjamin: porque tal “possibilidade multiplicativa fere os valores que convertiam, até agora, a obra numa espécie de sucedâneo de uma experiência religiosa”.
De facto, a relação da arte dependia da instauração de três elementos e da interacção dos mesmos: aura, valor cultural e autenticidade.

Além destes elementos, Benjamin referia-se também à unicidade, ou seja, a impossibilidade de reprodução da obra, a não ser pela sua falsificação. Questionando as origens filosóficas que conceituaram estes três elementos (aura, valor cultural e autenticidade) como fez o discurso industrial emergente, não é difícil perceber as consequências que abalaram os alicerces da teorização clássica. Em outras palavras, Benjamin, procurava a especificidade do discurso da arte na época da sua reprodutibilidade técnica. Neste sentido, a sua visão das novas formas de arte ( fotografia e cinema ), embora às vezes possa parecer contraditória , é a mais adequada à compreensão da indústria cultural. É a sua releitura do significado técnico da obra de arte que permite romper com posturas teóricas “mistificadas” e dadas como universalmente válidas.

Se na fotografia já estava contido o germe da reprodutibilidade técnica, com ela, agora, a câmara adere ao corpo como uma simples extensão do olhar que se dirige para onde se quer, uma espécie de terceiro olho, que permite fotografar sem pensar. Com as primeiras câmaras Kodak, lançadas em 1888, juntamente com o slogan “você carrega o botão, nós fazemos o resto”, presencia-se um corte radical, não só na História da Fotografia, como também na própria História da Modernidade. Surge não só uma nova relação com a luz, como também uma nova relação com o tempo. Fotografar tornou-se uma acção, um agir em si mesmo, e com idêntico grau de complexidade, apesar de se diferenciar, do acto de escrever.

Entretanto, a fotografia, enquanto técnica relativamente semelhante à que conhecemos hoje, surge no exacto momento em que os tradicionais meios de representação visual já se encontravam superados pela Revolução Industrial: o telégrafo, a máquina a vapor, a rotativa dos jornais e a explosão demográfica urbana, aliados à necessidade de escoar mercadorias, não poderiam mais depender dos demorados e imperfeitos processos artesanais de produzir imagens. Sempre existiu um espaço ideal e um momento propício para a adopção de determinada invenção pela sociedade. Neste contexto, portanto, não é difícil conceber que a viabilização da fotografia por meios técnicos - e de outras importantes invenções ocorridas entre os séculos XVII e XIX - nasceu de necessidades de ordem económica, social, política e cultural geradas nas sociedades em processo de industrialização crescente.

Como decorrência deste mesmo processo, a rápida absorção de tais inventos estava praticamente assegurada por parte da sociedade. As imagens desta nova era, mais do que nunca, precisavam de ser perfeitas e instantâneas, como o próprio espírito do capitalismo industrial emergente exigia. De todas as manifestações artísticas, a fotografia foi a primeira a surgir dentro do sistema industrial. Pode-se mesmo afirmar que a Fotografia não poderia existir como a conhecemos, sem o advento da indústria. Buscando atingir a todos, por meio de novos produtos culturais, a Fotografia possibilitou uma maior democratização do saber.

Obras

* A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica (1936).
* Paris, Capital do século XIX (inacabado).
* Teses Sobre o Conceito de História (1940).
* A Modernidade e os Modernos, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.
* "Haxixe", São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.
* Origem do Drama Barroco Alemão, trad. e pref. Sérgio Paulo Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1984.
* Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação, 3ª ed., trad. Marcus Vinicius Mazzari, São Paulo: Summus Editorial, 1984.
* Estéticas do Cinema, ed., apres. e notas Eduardo Geada, trad. Tereza Coelho, Lisboa: D. Quixote, 1985.
* Obras Escolhidas, v. I, Magia e técnica, arte e política, trad. S.P. Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1985.
* Obras Escolhidas, v. II, Rua de mão única, trad. de R.R. Torres F. e J.C.M. Barbosa, São Paulo: Brasiliense, 1987.
* Obras Escolhidas, v. III, Chrales Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo, trad. de J.C.M. * Barbosa e H.A. Baptista, São Paulo: Brasiliense, 1989.
* Documentos de Cultura, Documentos de Barbárie: escritos escolhidos, introd. Willi Bolle, trad. * Celeste H. M. Ribeiro de Sousa, São Paulo: Cultrix, 1986.
* Diário de Moscou, pref. Gershom Scholem, ed. e notas Gary Smith, trad. Hildegard Herbold, São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
* Histórias e Contos, trad. Telma Costa, Lisboa: Teorema, 1992.
* Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, pref. Theodor W. Adorno, Lisboa: Relógio d`Àgua, 1992.
* Rua de Sentido Único e Infância em Berlim por Volta de 1900, pref. Susan Sontag, Lisboa: Relógio d`Água, 1992.
* O Conceito de Crítica de Arte no Romantismo Alemão, trad. pref. e notas de Márcio Seligmann-Silva, São Paulo: Iluminuras/ EDUSP, 1993.
* Correspondência: Walter Benjamin, Gershom Scholem, rev. Plinio Martins Filho, São Paulo: Perspectiva, 1993.
* Kafka, trad. e introd. Ernesto Sampaio, Lisboa, Hiena, 1994.
* Os Sonetos de Walter Benjamin, trad. Vasco Graça Moura, Porto: Campo das Letras, 1999.
* Leituras de Walter Benjamin, org. Márcio Seligmann-Silva, São Paulo: FAPESP, 1999.
* Origem do Drama Trágico Alemão, ed., apres. e trad. João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2004.
* Imagens de Pensamento, trad. João Barrento, Lisboa: Assírio & Alvim, 2004.
* Passagens, org. W. Bolle, São Paulo: IMESP, 2006.
* Benjamin, Andrew, A Filosofia de Walter Benjamin, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1997.

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