quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Uma história crítica do fotojornalismo ocidental - Jorge Pedro Sousa

Grupo D: Ana Luíza Monteiro, Ariane Cruz, Brenno Costa, Jônatas Lima, Nailanna Tenório


INTRODUÇÃO


A primeira edição de “Uma história crítica do fotojornalismo ocidental” foi publicada em 2000. O livro é a ampliação de uma tese elaborada pelo autor Jorge Pedro Sousa, que considera a fotografia jornalística como artefato de gênese pessoal, social, cultural, ideológica e tecnológica. Além disso, o autor também tem a intenção eliminar a lacuna de inexistência de livros que contenham o processo evolutivo da história fotojornalística. Segundo Sousa, estudar a evolução do fotojornalismo é complexo e, como nos dias atuais, já existia o conflito “o que é verdade x o que se faz crer” no fotojornalismo antigo. Uma ideia que foi amadurecida com o advento de outros recursos para o aperfeiçoamento da fotografia ao longo do tempo.
O autor aborda dois conceitos no livro: o fotojornalismo em seu sentido lato, que corresponde à fotografia informativa, documental e interpretativa. Caracteriza-se pela finalidade, não pelo produto em si e são as matérias que se publicam na imprensa. O fotojornalismo em seu sentido restrito informa, esclarece, mas é um jornalismo caracterizado pela opinião.
Aborda, também, a diferença entre fotojornalismo e fotodocumentarismo. O primeiro caracteriza-se pelo imediatismo, atualidade, mostrando o que acontece no momento. O segundo precisa de uma organização prévia e não tem validade quanto ao tempo.
“A abertura do olhar é uma aventura evolutiva”. A fotografia foi conhecendo maneiras de se fazer entender melhor, perpassando tanto pela objetividade do uso de uma câmera, como também pela subjetividade do que se está sendo fotografado. Até os dias atuais, há conceitos que são questionados em relação ao fotojornalismo, fazendo com que seus estudos estejam em constante readaptação. Uma verdadeira aventura evolutiva.



RUMO A UMA VISÃO HISTÓRICA DO FOTOJORNALISMO NO OCIDENTE

A história do fotojornalismo é marcada por oposições, superações e rompimento de rotinas. É constantemente estar assistindo a uma expansão do que merece ser fotografado. E sob várias lentes, sob diversos olhares. Por isso mesmo, o autor Pedro Sousa decidiu apelidar o capítulo de “uma visão”, porque é impossível se contar a “história da fotografia” como ela é. É uma história coberta de opiniões, contada por, no mínimo, dez estudiosos. O processo evolutivo da fotografia está, até hoje, em constante transformação, por isso não existe uma ruptura total acerca de cada época desde o surgimento da ideia da fotografia. Ela está no processo de readaptação, de constante amadurecimento.
O autor faz um paralelo entre a fotografia de ontem e a de hoje. Em meados do século XIX, as fotografias eram ilustrações que os fotógrafos faziam a partir de gravuras em madeira. Quando se tirava uma foto, o fotógrafo a produzia de maneira que todos os participantes saíssem conforme ele quisesse: posição e postura. Era o domínio do fotógrafo. As concepções foram sendo modificadas e, hoje, o domínio é do público. A espontaneidade tomou conta das lentes de uma forma que já não é preciso que o fotógrafo junte uma família ou um grupo de amigos para tirar a fotografia. Basta usar a criatividade e fotografar o “momento decisivo”. Houve mudanças, também, na forma subjetiva de fotografar. Antes, não se imaginava fotografar com função social e informativa. Uma fotografia era, apenas, uma fotografia. Hoje, uma foto tem o poder de informar, fazer chorar, ser interpretada de diversas maneiras. A foto passou a ter valor igual ao dos textos nos jornais. A terceira e, talvez, mais significativa mudança vem a partir do advento da tecnologia. Foi ela quem permitiu que o processo fotógrafo se tornasse cada vez importante.


OS PRIMÓRDIOS DO FOTOJORNALISMO

Fotografia era vista como arte. Fotógrafo era pintor. Nos primórdios do seu processo, ela se integrou nas artes plásticas e as fotos eram feitas em gravuras de madeira nas revistas e jornais ilustrados. Um dos primeiros equipados utilizados para se fotografar foi o chamado daguerreótipo ( processo fotógrafo feito sem uma imagem negativa). Em meados do século XIX, começou-se a promoção e difusão de fotografias de intenção documental de locais distantes e paisagens, mas, claro, a foto retrato, tirada com pessoas sós ou famílias, não deixaram de existir.
Ainda na métada do século XIX, tem-se o fim do daguerreótipo e a introdução do negativo-positivo na fotografia. Além disso, foi-se modificando a ideia da arte única. Cada paisagem ou pessoa (ou até eventos) era fotografada de diversas formas, sob vários ângulos, permitindo que o fotógrafo escolhesse a melhor foto. Aos poucos, a conquista do movimento começou a fazer parte da vida dos fotógrafos, além da melhoria das lentes.
Em 1854, os preços dos autorretratos diminuíram, o que caracterizou o Mass-Medium. Muitas pessoas comuns tiveram acesso às fotografias de maneira que a fotografia começou a ser massificada. Foi durante essa época, também, que abriu-se mercado para fotojornalistas.


NASCE O FOTOJORNALISMO: A GUERRA COMO TEMA PRIVILEGIADO

A guerra passou a ser considerada um tema sedutor e de sucesso. A primeira guerra a ser fotografada foi a “Guerra da Criméia” (1854-1855), pelo fotógrafo Roger Fenton. As fotos feitas nessa guerra não eram caracterizadas pelo horror, pelo sensacionalismo e pela morte. Eram fotos de soldados se preparando para a ação antes de começar a batalha ou do local da guerra. Isso existia porque os fotógrafos não tinham condições de chegar muito perto dos locais onde haviam as guerras (os equipamentos eram pesados e tinham que ser carregados à mão). A tecnologia ainda não permitia que eles fotografassem sem o perigo de serem atingidos. Hoje, tem-se condição de fotografar um momento tendo sem o perigo que existia antigamente, embora ainda exista claro. Por isso que o autor chamou essa guerra mostrada através da lente de “falsa guerra”. Não era a real situação do momento.
Depois da Criméia, a Guerra da Secessão foi a primeira a ser massivamente coberta por fotógrafos e as fotos começam a ser feitas baseadas no choque da situação. Na subjetividade do momento. Foi depois disso que se começou a pensar sobre o direito à autoria. Muitos fotógrafos assinam por outros, que questionavam a ação, alegando ter tirado as fotografias.
Foi uma época também marcada por descobertas. A primeira delas a de que os leitores eram observadores visuais e os fotógrafos começaram a entender o quanto a fotografia persuadia pelo realismo. A segunda se baseava na concorência. A foto como valor notícia foi dando às caras, e isso fez com que se aumentasse a velocidade de sua publicação. A terceira era a de acreditar que quanto mais perto da realidade o fotógrafo estivesse, mais credibilidade ele teria. Os leitores queriam ver a guerra “como ela é”. A quarta descoberta vem da própria credibilidade da fotografia, destacando que sua carga dramática era muito maior do que na pintura. A quinta e última é a de que a imagem final era conformada pela imprensa mais forte. Os leitores acreditariam na fotografia mais real que os jornais publicassem. É nesse momento que a fotografia começa a ter sua importância primordial em um jornal. Segundo o autor do livro, “depois da fotografia, a guerra nunca mais seria a mesma”.
Só na última década do século XIX é que a corpo profissional autônomo dos fotógrafos começaram a se delinear.


UM LUGAR AO SOL: INVENÇÕES E INOVAÇÕES DESENHAM O ÊXITO DO FOTOJORNALISMO

No começo do século XX, a tecnologia facilita a arquivística fotográfica, mas também facilita a manipulação imaginética. Um fato interessante é que, em 1817, na Comuna de Paris, os fotógrafos tiravam as fotos para registrar a identidade de cada pessoa com vista à instauração de processos criminais. Mas as pessoas não sabiam disso e, mesmo assim, posavam para as fotos. Começaram a surgir revistas em diversos países: França, Espanha e EUA. Um dado interessante é que, apesar de a tecnologia mostrar, aos poucos, sua cara, havia ainda os conservadores de plantão, que não admitiam reformulação nas gravuras.
Começou-se a utilizar o halftone, que “servia para simular uma imagem de tom contínuo através do uso de minúsculos pontos de diferentes tamanhos, igualmente espaçados, causando uma impressão de cor sólida”. Em 1884, a película fotográfica surge como material de mais fácil manipulação e transporte. Quatro anos depois, surge a primeira câmera Kodak, quando a fotografia promove-se a medium de uso massivo. As fotos começam a ser vendidas para os jornais ilustrativos e o fotógrafo amador se transforma do criador. Os primeiros fotógrafos profissionais eram detestados pelas pessoas vítimas das fotos. Isso porque o cheiro do magnésio vindo do flash era forte e as incomodava. Depois porque, diz a história, os fotógrafos costumavam ser pessoas rudes pelo fato de carregarem muito peso todos os dias, o que afetava a sua personalidade.
Já perto de 1910, as cores começam a ser usadas nas fotografias e a velocidade de transmissão de imagens aumenta.
No começo do século XX, a fotografia já era vista pela maioria dos jornais como um meio de informação e não apenas de ilustração. O autor fecha o capítulo afirmando que “o fotojornalismo vai encontrando os meios para cobrir com eficácia e em competição o mais difícil desafio: a guerra. Enquanto isso, fazia o seu ´tour du monde´.


NASCIMENTO DO FOTODOCUMENTARISMO

Antes do advento da fotografia de caráter social e humanista, o ato de fotografar temas onde o indivíduo e seus males fossem o foco não era prática comum, assim como também não era preocupação fundamental usar a foto como instrumento de denúncia ou meio de mudança de uma realidade.
Quando essa forma de pensar tomou à frente no meio fotográfico e o homem, sua vida, seus males e necessidades viraram uma via que não podia passar despercebida, o fotodocumentarismo tomava forma.
A fotografia passou por dificuldades antes de encontrar espaço em revistas, jornais ou mesmo como médium de informação. A primeira delas foi o próprio reconhecimento e o segundo as dificuldades técnicas, que impediam a impressão das fotos com facilidade e qualidade.
Podemos encontrar indícios do surgimento do fotodocumentarismo, em alguns fatos como: nas fotografias de viagens e curiosidades etnográficas em meados do século passado, nas fotografias sobre a conquista do oeste americano ( foto documental de interesse colonialista e de subjugação de povos), nos levantamentos etnográficos dos índios norte-americanos, nas fotos de intenção documental da colonização da África e do Oriente bem como nas fotos para elaboração de postais, nas fotos de Henry Mayhew, um dos pioneiros em retratar a industrialização na Inglaterra, nos trabalhos de Carlo Ponti sobre Veneza e finalmente nas obras dos fotógrafos de cultura social e humanista, como Thomson, Riis e Lewis Hine, por exemplo.
No trabalho desses últimos é que se considera o nascimento do fotodocumentarismo moderno, marcado pelo desejo de intervenção social. O estilo que marcou as obras desses fotógrafos “empenhados”, foi o da denúncia, a vontade de mostrar mundos sociais desconhecidos ou que passavam despercebidos aos olhos de uma classe média londrina, no caso de John Thomson em sua obra Street Life in London, ou Nova Yorkina, no trabalho de Jacob Riss em sua foto Bandi Roost ( O Beco dos Bandidos), também considerado o primeiro fotojornalista a “sério”. Pesava a intenção de dar testemunho, de reformar, de conhecer o outro, de saber como vive, o que pensa, como vê o mundo. Nesses casos as palavras já se mostravam insuficientes.
A frase de Sebastião Salgado resume bem todo o sentimento existente: “(...) há vidas decisivas, com toda a sua cultura e toda a sua ideologia”. Enfim, existem muitas coisas no homem e não do homem que precisavam ser descobertas, retratadas e fotografadas.


SÉCULO XX: PORTAS ABERTAS À EXPERIMENTAÇÃO

A fotografia do século XX foi marcada pela supervalorização da técnica, a maquina como foco dos trabalhos e também pelo crescimento da demanda no fotojornalismo, que encontrava seu espaço e o respeito como algo atrelado a notícias, fatos e acontecimentos. No início desse século, acontecimentos marcantes foram registrados, fazendo aumentar as expectativas do público frente a este meio, consolidando assim o mercado.
Surgem os movimentos da Photo Secession e da Straight photography que deixaram suas marcas e ideologias na maneira de fotografar e valorizar fundamentos até então não destacados. O primeiro buscou abrir caminhos mais “realistas” e precisos para a fotografia, se tornando independente do pictoralismo e virando uma arte autônoma. Marcado também por uma estética modernista, de elogio à cidade, indústria e do progresso. O segundo movimento prega a fotografia “pura”, que destacava os meios fotográficos como enquadramento, luz, etc, como forma de recusar os procedimentos artísticos. È considerada a invenção mais original da fotografia americana, uma fotografia registrada em função do ponto de vista e responsabilidade do fotógrafo, onde as imagens fotográficas fossem um instrumento válido para manifestar os sentimentos humanos, embora não como proposta artística e pictórica.
O movimento chamado de Neue Sachlichkeit (Nova Objetividade), surgiu também no século XX. Sua proposta era valorizar a ordem fotográfica, ou seja, a nitides, a precisão, a recusa em mascarar as características técnicas. Buscava a obtenção dos detalhes descritivos do mundo físico com o recurso da profundidade de campo o maior possível e menor abertura do diafragma conseqüentemente.
Esses acontecimentos são reconhecidos como a pré-revolução da fotografia, que caminha para a profissionalização e o reconhecimento do fotógrafo como profissão.


SURGE O FOTOJORNALISMO MODERNO

O atraso no reconhecimento da fotografia como novo meio, durou até o início do século XX, prejudicando o que viria a se transformar na organização dos fotógrafos como profissionais dentro dos jornais e revistas ilustradas. Uma das dificuldades se deve ao fato das imagens serem feitas fora dos jornais, o que atrasava publicações, fundamentadas no caráter do imediato.
De fato, o que marca a fotografia moderna é a entrada das fotos nos jornais, revistas, o reconhecimento da foto como informação, o espaço alcançado por ela ao lado dos textos, não mais ficando em segundo plano, ajudada pelo desenvolvimento da tecnologia.
A mudança cultural na imprensa foi fundamental para que o público pedisse que a foto viesse ao lado do texto, para que então as empresas se adaptassem mais, a procura crescesse e a técnica avançasse. Com isso muitos passam a optar pelo fotojornalismo enquanto profissão. Uma revolução para o meio, inicialmente vista apenas como arte para exposição, passando pelo caráter social e de preocupação como o homem, até chegar ao meio como informação, que tem a capacidade de falar por si mesma.
Na época, a foto não obtinha o espaço atual, tanto em tamanho de resolução como na página. Não eram colocadas como forma de hierarquizar a informação e assim facilitar a leitura, entre outras utilizações atuais.
Foi no fotojornalismo moderno que a manipulação e a propaganda ganharam força, e a foto era usada para mostrar uma parte da realidade, aquilo que se quer revelar. Virou arma nas mãos de governos em guerras, conflitos e no cotidiano de povos como os da URSS.
É a Alemanha que carrega o posto de berço do fotojornalismo moderno, de onde saíram fotógrafos que publicaram em revistas ilustradas e jornais, ainda na década de 1920. Assim, foi dado início a articulação do texto com imagem, onde a informação pede a imagem para sua complementação.
Outro marco foi o avanço técnico, que fez com que a fotografia ganhasse mobilidade, assim como o advento do flash, a comercialização de câmeras de 35mm, o surgimento de fotógrafos formados, entre outras transformações.
O fotojornalismo moderno tornou-se então função obrigatória e a imagem ultrapassou a barreira do preconceito e encontrou um caminho de glórias e reconhecimento.


O FOTOJORNALISMO ANTES, DURANTE E DEPOIS DAS GRANDES GUERRAS

É nas décadas de 30, 40 e 50 que o Fotojornalismo vai exercer importante papel para a própria mídia e para a sociedade. Durante todos esses anos, marcados por conflitos devastadores e uma rígida censura do governo sobre os meios de comunicação, a foto tomou uma forte posição de destaque e relevância na formação de opinião. No período entre a 1ª Guerra Mundial e a 2ª, o fato marcante na indústria fotográfica foi o uso abundante das cores nas imagens. Além disso, a utilização das intituladas fotos-choque, que abusavam do sensacionalismo para atrair o público, e de imagens mais detalhadas e com tons humorísticos, se utilizando, por exemplo, de gafes políticas, foi outro marco dos anos 30. Em 1933, a revista Vogue publica sua primeira foto colorida.
No mesmo período, a Look e a Life, ambas as revistas ilustradas dos Estados Unidos, priorizaram as fotos nítidas e com profundidade de campo. Ainda nessa época de entre guerras, o governo lançou um projeto fotodocumental, chamado Farm Security Administration(FSA). O objetivo do projeto era mostrar o aspecto positivo da América Rural e os resultados dos programas do governo no meio rural. Para isso, foram contratados vários fotojornalistas que foram fortemente limitados durante o projeto, visto que não podiam mostrar aspectos negativos, como a fome e a miséria, existentes na América Rural. Porém, devido a problemas internos, o FSA chegou ao fim e, com isso, mais de 100 mil fotos foram censuradas e tiveram os seus negativos perfurados. Provavelmente, eram fotos que mostravam o desespero de quem vive no meio rural. Em resposta à censura sofrida durante o FSA, fotojornalistas criaram a Liga Fotográfica Independente de Nova Iorque. O objetivo era mostrar os verdadeiros aspectos da cidade americana.
Já durante a década de 40, época em que ocorreu a 2ª Guerra Mundial, a invenção do fotômetro foi o grande marco para os fotógrafos. Durante esse período de guerras, o governo exerceu forte controle sobre as fotografias de combate publicadas. As fotos das atrocidades, por exemplo, só eram levadas ao público no término do conflito. Para manter a censura, o governo estabeleceu, então, uma ordem de importância para a publicação das fotos relativas aos conflitos. Em primeiro lugar, deveriam ser publicadas as fotos que mostrassem o exército alemão em ação. Em segundo, a figura de Hitler e, por último, a guerra vista pelo lado oposto ao do alemão. Porém, essa será a época na qual os fotojornalistas terão os seus trabalhos reconhecidos.
Além disso, a fotopropaganda encontrou o seu auge durante o período de guerras. Entre os fotojornalistas que se destacaram com a cobertura da 2ª Guerra, as figuras de Robert Capa e Henri-Cartier Bresson são as mais marcantes da época.
No pós-guerra, durante os anos 50, predominou a fotografia humanista, voltada para o compromisso social. A fotografia como ‘verdade interior’ do fotojornalista também foi uma característica da época. Nessa década, houve um forte crescimento das agências fotográficas e, consequentemente, a massificação da produção fotojornalística. O surgimento de agências como a Magnum, que teve como alguns dos seus fundadores Capa e Bresson, significou um salto para a valorização dos fotojornalistas. Ainda assim, as fotos do pós-guerra continuaram a ser manipuladas pelo governo. A junção da imagem da foto à imagem da arte, confundindo, então, o que viria a ser foto ou arte, também marcou os anos 50. Outro fato marcante foi a criação da Word Press Photo, uma espécie de associação feita, por fotojornalistas, em 1956. Mesmo com a constante censura do governo, os anos 50 foram marcados pela resistência dos fotojornalistas que passaram a reivindicar a propriedade dos negativos e um maior controle sobre a edição dos seus trabalhos.


A SEGUNDA REVOLUÇÃO NO FOTOJORNALISMO E A EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE DOS ANOS SESSENTA AOS ANOS OITENTA


A Guerra do Vietnã abriu os olhos do mundo para o poder da fotografia, em especial do fotojornalismo. A chamada foto-choque produziu um impacto tão grande na população que foi capaz de alterar a opinião de quem era favorável à guerra. Muito mais do que a televisão, que retratava o que se passava no conflito, mas tinha um caráter “efêmero”, já que os fatos mostrados rapidamente saiam da mente da população, as fotos eram registros que marcavam, e podiam ser vistas várias vezes. Fotógrafos como Dana Stone, Don Macculin, David Burnett, Tim Page, Larry Burrows, Henri Huet, Robert Ellison, Catherine Leroy e Gilles Caron, tornaram-se responsáveis por registrar os grandes acontecimentos entre as décadas de 60 e 80, além de colaborarem para o desenvolvimento de novos métodos como a técnica francesa de fotografia, que alterou a estética da representação.
Quando a sociedade e os veículos deram conta do impacto das fotos, ouve um ligeiro abandono da função sócio-integradora da informação, em detrimento da espetacularização e dramatização. Muitas agências passaram a exigir dos seus profissionais fotos que retratassem imagens sangrentas, e que seriam mais facilmente compradas pelos veículos (jornais e revistas semanais).
Foi também nesta época que foi introduzido no ensino superior o estudo teórico a respeito da foto. Eram tempos em que dúvidas foram introduzidas na cabeça da população, como a questão da foto ser ou não uma arte, e qual a sua representatividade perante a sociedade. Além das questões mais filosóficas, os avanços tecnológicos também marcaram o período. Inovações, como o uso do scoop, ajudaram a melhorar a qualidade das imagens.
Com tudo isso, os franceses perceberam o futuro do fotojornalismo, e passaram a investir de maneira maciça. Agências foram criadas, e o centro desse tipo de mídia se deslocou de Nova York para Paris. Com o aumento da demanda, e consequentemente de fotojornalistas, as fotos ganharam características industriais, pois passaram a ser produzidas em massa, e com o objetivo de gerar lucro. No fim dos anos 80, ouve uma revalorização desse tipo de trabalho, e um resgate pela essência dessa atividade.


A TERCEIRA REVOLUÇÃO NO FOTOJORNALISMO

No período entre as décadas de 80 e 90, o fotojornalismo, segundo o autor, passou pela terceira revolução. Nesse momento, considerado conturbado pelo próprio, vários acontecimentos sociais foram fundamentais para mudar a maneira como se fotografava, não só no aspecto tecnológico mas também na maneira como o fotojornalista "vê" a sociedade. Foram marcantes para esse estágio, entre outros marcos, a chamada queda da cortina de ferro, que corresponde a derrubada do Muro de Berlim e o fim da união Soviética, o aumento das migrações e os conflitos étnicos, como o que ainda acontece em Ruanda. Além disso, o que influenciou de maneira mais direta na captação das fotos, foram as novas tecnologias da comunicação.
Nesse contexto, as novas possibilidades de manipulação e da geração computacional levantam debates acerca de assuntos éticos e do viés que está sendo levado o fotorjornalismo. Com os avanços tecnológicos, a estética da velocidade e o fator tempo se redimensionam. Isso leva a uma industrialização da fotografia, que passa a se preocupar mais com o imediato do que com o contexto dos acontecimentos. Novamente, o jornalismo perde ao poucos a essência de provocar o questionamento social.
Ainda na esteira das inovações tecnológicas, casos de manipulação das fotos se tornam mais frequentes. Entre vários exemplos elucidados, o autor recorda o caso de um jornal francês que retirou a lata de uma Coca-cola de uma imagem jornalística sob a alegação de que o jornalismo não deve se misturar com a publicidade. Assim, as novas tecnologias também passam a provocar debates sobre como deve ser delimitado o campo do fotojornalismo.
Com relação ao conflitos étnicos, o autor separa um novo ponto de discussão levando em conta os massacres que acontecem em Ruanda. O fotógrafo Patrick Robert viajou até o local, em 1994, para retratar as mortes que vinham acontecendo na região. No entanto, após alguns dias, retornou sem conseguir vender uma foto. Dessa maneira, bate-se na tecla da banalização da violência, que com frequência é vendida pelos jornais e , aos poucos, naturaliza-se, levando o espectador a não distinguir fatos relevantes e nem o contexto dos acontecimentos, como o caso de Ruanda.
É nesse período ainda que acontece a grande expansão da internet, que se torna outro meio de divulgação do trabalho fotográfico. Segundo o autor, ela se torna uma espécie de "redação livre" onde se pode divulgar os diversos trabalhos. Porém, é ainda nesse espaço, que se levanta outra questão: os direitos autorais. A facilidade em ter o acesso as fotos permite que as pessoas se apropriem indevidamente dos trabalhos fotográficos.
Com as inovação computacionais, os jornais também passaram a seguir novas tendências fotográficas. Elas começaram no periódico USA Today e levaram a se publicar imagens com um caráter mais ilustrativo. Assim, as fotos de celebridades e "pousadas" (estilo coluna social) começaram a ganhar um valor exacerbado. Portanto, entram em conflito com a essência do fotojornalismo.
Para finalizar, o autor enumera trabalhos que estão na contramão dos critérios de noticiabilidade do senso comum, como a velocidade e a atualidade. São citados trabalhos como o de Sebastião Salgado e o das agências Magnum, Contact, JB Pictures e Vu.

Nenhum comentário: