Grupo E: Anamaria Lima, Carolina Albuquerque, Isis Cavalcanti, Ivson Menezes, Teogenes Miranda
1. Introdução
Desde o surgimento da fotografia existe uma questão: Em que medida as fotografias são documentos históricos? Esse assunto é tema de muitas discussões e o livro de Boris Kossoy inicia com essa pergunta também. Muitas outras questões surgem ao longo do livro “Fotografia e História”, mas as respostas são muito relativas, afinal cada um vê a fotografia de uma perspectiva diferente.
A fotografia surge com desenvolvimento das ciências, num momento de transformação da história moderna, exatamente na Revolução Industrial onde seu papel era o de informar e ao mesmo tempo de impressionar. Inicialmente essa descoberta era totalmente artesanal, mas aos poucos foi mudando de acordo com a economia - essa invenção se espalhava por todo o mundo e era a nova sensação. “A nova invenção veio para ficar”, diz Boris.
É claro que a fotografia não foi aceita por todos, a partir do momento que ela começou a ser usada para incriminar pessoas o seu conceito não era mais o mesmo. A fotografia começa a ser documento e a ser vista por uma perspectiva histórica, a aceitação da fotografia acontece em 1960. Daí grandes nomes surgem e as subdivisões também, cada profissional se especializava na área que mais se identificava, a imagem era reconhecida de acordo com a personalidade de cada fotógrafo.
Com a “Revolução Fotográfica” o termo usado “documento” passou a ter outra conotação. Aos poucos a imagem passava a ser vista com outros olhos, a fotografia era analisada com cuidado, para alguns, ela começava a servir como documento, para outros, não passava de uma mentira, uma cena montada.
2. Fotografias como fontes históricas
Durante muitos séculos, viajantes, cientistas e artistas utilizaram a câmera obscura para desenhar uma paisagem. Com o surgimento da fotografia, a imagem dos objetos na câmera obscura já podia ser gravada diretamente pela ação da luz sobre determinada superfície sensibilizada quimicamente. Os componentes fundamentais de todos os processos destinados à produção de imagens são em essência o homem, o tema e a técnica específica. São estes os elementos constitutivos que deram origem a fotografia através de um processo finalizado no momento em que o objeto teve a imagem cristalizada.
São os componentes interligados a serem detectados nos estudos históricos específicos. A fotografia traz em si indicações acerca de sua elaboração material-tecnologia empregada, e mostra um fragmento selecionado do real - o assunto registrado. Uma fotografia original é, assim, um objeto imagem, um artefato no qual se pode detectar em sua estrutura as características técnicas típicas da época em que foi produzido. Um original fotográfico é uma fonte primária, já uma reprodução é uma fonte secundária. A primeira tem importância específica para a história da técnica fotográfica, a segunda é um instrumento de disseminação da informação histórico-cultural.
O fotógrafo pode ser considerado um filtro cultural na medida em que elege um aspecto determinado do real, preocupa-se na organização dos detalhes que compõem o assunto, como também, na exploração dos recursos da tecnologia. Estes fatores influenciarão decisivamente no resultado final. Toda fotografia representa em seu conteúdo uma interrupção do tempo. Esse permanecerá para sempre congelado dando origem a uma segunda realidade, isto é, a vida do documento.
Uma fotografia do passado possui uma história própria, um trajeto percorrido baseado em três estágios: a intenção para que ela existisse, o ato do registro e os caminhos trilhados por ela. O artefato fotográfico, através da matéria (que lhe dá corpo) e de sua expressão (o registro visual nele contido), constitui uma fonte histórica. No entanto, apesar de algumas imagens serem reproduzidas com uma finalidade documental, não deixam de possuir valores estéticos. A exemplo disso está a abstração, montagem e alteração visual da ordem natural dos acontecimentos, a criação de novas realidades exploradas constantemente pelos fotógrafos. Qualquer que seja o assunto registrado na fotografia, está também documentará a visão de mundo do fotógrafo.
É necessário dividir teoricamente os objetos de investigação tanto da história da fotografia quanto da história através da fotografia. A primeira se refere ao estudo do meio de comunicação e expressão em seu processo histórico. A segunda está ligada ao uso da iconografia fotográfica como instrumento de apoio à pesquisa. Esta última terá algumas dificuldades na medida em que própria história da fotografia não tenha sido objeto de investigações abrangentes e aprofundadas. Como é o caso dos países latinos americanos.
3. Metodologia de Pesquisa
Kossoy propõe um modelo metodológico de investigação e análise crítica das fontes fotográficas na sua individualidade, mas também visando seu posterior aproveitamento para o trabalho histórico.
O primeiro passo é levantar a bibliografia sobre o tema estudado. A heurística é justamente a localização e seleção das fontes para que se possa reconstruir um período determinando da atividade fotográfica e investigar as circunstâncias que envolveram a produção de uma fotografia no passado. Recuperar a história da fotografia, portanto, requer conhecimento amplo da produção fotográfica do passado. Para tanto, faz-se necessário o levantamento e a seleção da documentação fotográfica sobrevivente, a busca por informações sobre o fotógrafo – através de testemunhos orais dos seus descendentes ou dele mesmo – e a tecnologia particular utilizada em uma determinada época.
É importante destacar que a investigação sobre procedência e trajetória do documento fotográfico revela o fato de que toda foto, assim como outros documentos, tem uma história atrás de si. Segundo o autor do livro, para que essa história se desvele quatro categorias de fontes devem ser consultadas:
a) Fontes escritas:
- documentos escritos/manuscritos: documentos pessoais e comercial escritos pelo próprio fotógrafo, como por exemplo, um diário, registro de compra e venda de equipamentos fotográficos ou outros manuscritos referentes à atividade fotográfica, como um contrato de serviço etc;
- impressos: por exemplo, obras de autores contemporâneos ao fato histórico, literatura e jornais da época para ver informações sobre o fotógrafo catálogos de exposições, publicações da época sobre a fotografia, etc.
b) Fontes iconográficas: documentos iconográficos em geral, incluindo os fotográficos da época:
- originais: fotografias da época, localizadas em coleções públicas e privadas, antiquários, sebos e com os descendentes dos fotógrafos.
- impressas: publicações que contenham imagens fotográficas como publicações históricas promocionais de governos, publicações que explorem e questões antropológicas, botânicas, geológicas, etnográficas, revistas ilustradas e cartões postais, desenhos representando objetos e fatos relacionados à práxis fotográfica.
c) Fontes orais: depoimentos de descendentes dos fotógrafos do passado, de pessoas da comunidade e de estudiosos familiarizados com os conteúdos das imagens em questão.
d) Fontes objetos: todos os vestígios materiais sobreviventes à ação do tempo- monumentos arquitetônicos, ossadas humanas e animal, vestuário, moedas, armas, produções de arte, diferentes modelos de câmera e todos os outros objetos empregados no ofício fotográfico.
É exatamente o estudo das fontes acima citadas, o que vai revelar informações sobre a própria gênese e história enquanto documento da fotografia e sobre um fragmento da realidade passada. Kossoy explica que:
“Através da reunião dos dados coletados por essas pesquisas, surgirão parâmetros seguros para a determinação da data e do local de produção das fotografias do passado além de informações substanciais para a determinação da autoria desses documentos, da tecnologia que foi neles empregada e para a decifração de seus conteúdos.” (Kossoy, 2001, p. 86)
4. Iconologia: Caminhos da Interpretação
Para o pesquisador, a iconologia representa a segunda etapa do estudo da fotografia histórica. Depois de catalogar, separar, identificar as informações técnicas em relação ao documento histórico, é hora de interpretar o que este revela de novo e comprova sobre o assunto pesquisado.
A imagem é um fragmento do real visível, que reúne sobre esse determinado assunto uma serie de informações que podem ser encontradas no conteúdo explícito da fotografia ou nas entrelinhas.
A linha positivista da analise da fotografia, que dizia que “a informação visual do fato representado na imagem fotográfica nunca é posta em dúvida” (Kossoy, 2001, p. 102), foi por um longo tempo utilizada. Isto é, a fidedignidade era aceita a priori comparada apenas a imagem audiovisual. Se no jornalismo televisivo, tem-se, como muitos acreditam, a imagem como uma fonte incontestável de informação do que é o real, a fotografia também é digna deste privilégio.
Na hora de interpretar, este tipo de pensamento pode ser um entrave para reconstituir ou resgatar um determinado acontecimento histórico.
O autor separa duas categorias de fontes históricas para explicar as diferentes relações entre a evidência fotográfica e a fidedignidade do documento visual. A primeira: fotografias tomadas pelo autor por puro prazer documental ou estético, desvinculada de alguma aplicação imediata. A segunda: fotografias encomendadas aos profissionais do ofício por terceiros, os clientes.
Outra dica importante do autor para comprovar a fidedignidade de conteúdo, é comparar as fotografias com outras do mesmo autor ou de outros da mesma época. Além disso, é preciso saber também sobre o fotógrafo, como é seu comportamento social e individual, sua situação econômica, e sobre o conjunto da sua obra. Isso porque a fidelidade de conteúdo de uma fotografia está diretamente relacionada com o seu autor.
O livro dá o exemplo do fotógrafo Guilherme Gaensly, que fez uma série de fotografias sobre o interior do Estado de São Paulo, entre 1902 e 1903. Uma dessas imagens chama-se “Colheita do Café”, que retrata uma família de colonos imigrantes reunida para o trabalho no cafezal. Uma análise descolada de qualquer outra informação sobre o autor e a época, leva a idéia de que a família vive em harmonia naquele tipo de trabalho e lugar. No entanto, ao saber que o fotógrafo era contratado pela Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Estado de São Paulo para documentar as fazendas do interior, a fotografia toma um ar publicitário e promocional do Governo. Neste sentido, exclui da análise imediata todo o contexto subhumano e de escravidão em que viviam os imigrantes naquela época.
É preciso levar em conta, ainda, as possibilidades de manipulação da fotografia. No começo, os fotógrafos tinham a ferramenta da pintura e dos produtos químicos em laboratórios para mudar a realidade capturada pela imagem. Hoje, essas técnicas somam-se às variadas possibilidades de programas como Photoshop, que possibilita ao autor interferir na luz da fotografia ou até no próprio conteúdo da mesma.
5. Fotografia e Memória
Em 1960 detonou um processo de revalorização da fotografia como meio de expressão artística. Ela começou a ganhar espaço em grandes galerias, principalmente dos Estados Unidos e da Europa. Mas apesar de muitos pensarem que essa produção só ocorreu nos grandes centro, a história de locais fora do eixo, como a regional e nacional, também começaram a ser desvendadas. Na América Latina, as pesquisas de cunho científico começaram mais efetivamente na década de 1980. Esse aumento do conhecimento sobre a bibliografia da fotografia latino americana contribuiu para a conscientização da importância do patrimônio iconográfico nacionais por parte do poder público e das empresas privadas.
“A fotografia é, ao mesmo tempo, uma forma de expressão e um meio de informação e comunicação a partir do real e, portanto, um documento da vida histórica.” (Kossoy, 2001, p. 131) Contudo não se trata de focar apenas na fotografia como testemunho. Até porque quem pratica esse testemunho é o fotógrafo, que seleciona culturalmente e organiza esteticamente o fragmento do mundo visível com base na sua bagagem pessoal.
Para recuperar a verdadeira compreensão da estética fotográfica é necessária a decifração da finalidade a que se destinavam as imagens. Como, por exemplo, quando a maior parte da produção fotográfica era voltada para os eixos profissional e comercial. Nesse caso, não era o fotógrafo que produzia artisticamente, era o “cliente que dava as ordens” (Berenson in Kossoy, p. 230). Mas, mesmo dentro dessa lógica comercial, é possível perceber que a representação fotográfica reflete e documenta em seu conteúdo não apenas uma estética inerente a sua expressão, mas também uma estética de vida ideologicamente preponderante num específico contexto social e geográfico.
Após as primeiras décadas do advento da fotografia, uma diversificação de temas começou a ser produzidos. Foi quando surgiu a chamada “civilização da imagem”, um fenômeno do consumo da imagem enquanto produto estético de interesse artístico e documental. A partir disso desenvolve-se uma estética particular de representação multiplicada do mundo, na qual com a ajuda do avanço da tecnologia (máquinas menores e mais leves, introduzidas pela Kodak) qualquer pessoal poderia ser fotógrafo. Com isso a fotografia no início do século XX cumpriu um papel revolucionário em termos de disseminação em massa de imagens do mundo, e que logo veio a utilização das mesmas como fotojornalismo. Para resumir todos os aspectos que a fotografia oferece, descritas no livro História e Fotografia, Kossoy diz:
“Fotografia é memória e como ela se confunde. Fonte inesgotável de informação e emoção. Memória visual de mundo físico e natural, da vida individual e social. Registro que cristaliza, enquanto dura, a imagem – escolhida e refletida – de uma ínfima porção de espaço do mundo exterior. É também a paralisação súbita do incontestável avanço dos ponteiros do relógio: é pois o documento que retém a imagem fugida de um instante da vida que flui ininterruptamente.” (Kossoy, 2001, p. 156)
6. Bibliografia
KOSSOY, Boris. Fotografia & historia. 2. ed. Sao paulo: Ateliê ed., 2001.
Um comentário:
Postar um comentário